Língua Mãe (A Criação)


No princípio, Cunhã criou a língua mãe. Porque sem ela nada poderia existir. Ora, tudo estava vazio sem a língua mãe, a solidão enchia os corações dos Viventes Curumins.

Foi então que Cunhã disse: “Haja a língua mãe” para que gere a existência e defenda a vida quando ela for ameaçada. Cunhã percebeu que a língua mãe alegrou os corações dos tristes Curumins que começaram a falar da beleza de tudo que viam. Este foi o primeiro dia.

Cunhã disse: “Haja a língua mãe para todos os seres” para que se entendam. Houve uma profunda harmonia na criação. Foi o segundo dia.

Cunhã disse: “Que a língua mãe nomeie todas as coisas que existem” nos diversos povos dos Viventes Curumins. Cunhã sorria por tudo aquilo que estava sendo nomeado. Terceiro dia.

Cunhã disse: “Que a língua mãe ensine o respeito vital que todos devem Ter com a Terra”, principalmente os Viventes Curumins que nomearam as coisas visíveis do universo. Quarto dia.

Cunhã disse: “Que a língua mãe zele pelo culto central que é o amor à própria língua que criou tudo e todos”. Quinto dia.

Cunhã disse: “Que cada língua mãe seja preservada a onde nasceu, mas que haja partilha entre todas elas”. Cunhã abriu um sorriso muito sereno porque viu que isso era bom.

Cunhã disse: “Façamos que cada povo espalhado na Terra, fale sua língua mãe, mas que dentro do mesmo país haja variação da língua”, para que todos os povos sejam diferentes, porém, ligados pela língua que os fez livres para falarem a linguagem do amor como sinal que são feitos a imagem e semelhança da língua materna.

Cunhã balançou o maracá e lhes disse: “Sejam felizes se comunicando na reciprocidade e nunca se esqueçam que tudo pode ser resolvido pelo diálogo da língua mãe”, pois tudo foi criado para o bem de todos os povos. A linguagem é para construir a alegria, a fraternidade e a irmandade, além da presença do amor para que não exista a solidão entre os Viventes Curumins. Cunhã viu tudo o que tinha realizado e, olhando as águas dos rios, elas cantavam: Tudo está muito bonito! Era o sexto dia.

Assim foi criada a língua mãe. Cunhã concluiu no sétimo dia a linguagem do amor e, no sétimo dia descansou para sempre nos corações dos Viventes Curumins e de todos os seres, que logo em seguida continuaram falando a língua mãe como razão da existência de tudo. Foi por isso, que Cunhã ao som do maracá e do curimbó consagrou o sétimo dia, como o dia do descanso para se conversar e para se cultuar a língua mãe.

Itaguary


São Paulo, 01/07/99.

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